sábado, 23 de abril de 2011

Lionel Dubray, Heros de la Resistance










Humilhante. Assim pode ser avaliada a ocupação nazista da França durante a Segunda Guerra Mundial.

Em meados de 1940, os franceses, antes obcecados em seu autopanegírico de se considerarem olimpicamente superiores aos alemães - em termos estratégicos -, passaram a assistir à altiva marcha das tropas do führer em frente aos símbolos-mores do orgulho francês: a Torre Eiffel e o Arc de Triomphe.

Não tardou para que a humilhação se ampliasse. Após a assinatura de um armistício, os alemães impuseram aos franceses o retalhamento de seu território, a proibição de expansão de seu exército e o ressarcimento dos custos da guerra. Vexação total.

É de se esperar que, em um ambiente de tamanhas hostilidades, insurjam-se grupos rebeldes clandestinos. E isto de fato aconteceu: surgiu na França um grandioso movimento de resistência, composto por várias pequenas células de grupos armados. Grupos que, sob o manto do anonimato, agiam através de guerrilhas, jornais underground e outras iniciativas antinazistas.

Alistado nas fileiras do Groupe Alsace Lorraine de Francs-Tireurs et Partisans, iremos encontrar, em 1942, um destemido jovem de dezenove primaveras, que atendia pelo nome de Lionel Dubray. Ardoroso defensor de uma França completamente livre dos abusos alemães, Dubray destacou-se, em outubro de 1943, pela audácia de atacar alemães em pleno desfile militar na Paris ocupada! Também foi responsável pelo incêndio de várias instalações e materiais alemães, até que a Gestapo (polícia secreta alemã) o identificou.

Após um breve refúgio na Grã-Bretanha, Lionel Dubray retornou à França. Era necessário combater os germânicos, usurpadores de seu sagrado solo. E o fez com heroísmo e intrepidez até 14 de julho de 1944 – significativo dia do 155º aniversário da Revolução Francesa -, ocasião em que os nazistas capturaram-no em combate. Dubray foi submetido a dantescos oito dias de intensas torturas, até que, em 22 de julho de 1944 – ainda com seus pueris vinte anos de idade – foi impiedosamente fuzilado no bosque de Botsegalo, localizado em Morbihau, França.

Dubray não sobreviveu para presenciar a libertação de Paris dos nazistas - empreendida por seus companheiros de luta com o massivo apoio de tropas aliadas -, episódio que ocorrera pouco mais de um mês após seu fuzilamento.

Subjugados definitivamente os guerreiros da suástica, a França não relegou seu jovem mártir ao olvido. Em pouco tempo, uma rua da cidade de Athis-Mons, onde morou, recebeu seu nome. Também uma referência a Dubray passou a constar em um monumento aos mortos de Botsegalo. A velha casa de seus pais foi condecorada com uma placa em sua homengem.

O selo apresentado, que é parte de minha coleção pessoal, é mais uma dessas homenagens. Impresso em 1961, o selo foi litogravado com a imagem de Lionel Dubray em perfil e a designação de “Heros de la Resistance”, em uma justa referência à sua vida de entrega à pátria francesa.


Abdel: ABDEL

ABDEL Lionel Dubray, Heros de la ResistanceLionel Dubray, Heros de la Resistance

sexta-feira, 22 de abril de 2011

L'Emir Abdelkader











Os tempos não eram fáceis para o povo argelino. Após um longo período de sujeição ao Império Turco-Otomano, os franceses submetiam Argel ao seu nada suave jugo, em meados de 1830. Para os franceses, essa região costeira do Mediterrâneo possuía uma inegável relevância geopolítica e econômica; já entre os magrebinos, a substituição dos turcos pelos franceses no posto de opressores não poderia resplandecer em outro sentimento que não o descontentamento geral.




Muhyi ad Din, líder de uma influente fraternidade religiosa, era homem de grande prestígio. Havia bravamente resistido a anos de cárcere por ter se levantado contra os otomanos e, agora que o inimigo havia sido suprimido em suas terras, precisava redirecionar sua resistência ao opressor francês. Mas os anos haviam passado, e a idade já lhe pesava. Era-lhe necessário um substituto, e quem poderia ser melhor para essa empreitada do que seu próprio filho – a quem havia educado e preparado tão diligentemente? Surgia aí o grande Emir (líder) Abdelkader.






A escolha de Abdelkader para liderar a repulsão aos franceses não foi, ao contrário do que se possa imaginar, um ato de nepotismo de ad Din. O jovem emir tinha apenas 25 anos à época, e a descrição de seus atributos, segundo relatos, é impressionante: era ele um teólogo com fé inabalável no Islã; um homem de vasta carga cultural; um político habilidoso; um guerreiro de fibra e de excelente preparo físico; um orador persuasivo e carismático. Combinou todos esses apanágios para obter a adesão das várias tribos terrantesas ao seu projeto de criação de um Estado islâmico e independente.






Ainda antes de 1840, o governo rebelde já controlava 2/3 da Argélia – além ter estabelecido uma surpreendente organização institucional, com exército permanente, burocracia, cobrança de impostos e até mesmo prestação de serviços públicos. As autoridades francesas não tardaram a sufocar o movimento, visando à conservação de seus ricos postos às margens do Mediterrâneo, como Argel e Orã – sem debuxar grande interesse pela porção desse protoestado que abarcava a zona árida adjacente.





Em 1836, uma poderosa força expedicionária francesa liderada pelo general Bugeaud sobrepujou as tropas de Abdelkader, culminando com a assinatura do Tratado de Paz de Tafna. Por esse tratado, os franceses garantiam sua soberania sobre Alger e Orã, sem, contudo, oporem-se ao domínio do governo de Abdelkader aos 2/3 restantes do território, que praticamente não interessavam aos europeus. O tamanho prestígio que esse episódio rendeu a Abdelkader mostrou-se perigoso aos interesses franceses. Em 1839 veio o golpe final: os franceses romperam o tratado ao invadir a cidade de Constantine, provocando a inevitável retomada da jihad por parte de Abdelkader.






Em 1847, Abdelkader foi definitivamente sobrepujado, sendo enviado à França, onde permaneceu em exílio. O governo francês tentou cooptá-lo, ao tentar convencê-lo a assumir um “Estado-fantoche” árabe. Permaneceu incorruptível. Por fim, o próprio Napoleão III o libertou, ofertando-o uma pensão anual de cem mil francos para que jurasse nunca mais causar distúrbios na Argélia.






Abdelkader morreu em 1883 em Damasco, Síria. Assim que sua amada pátria se tornou independente, no longínquo ano de 1962, os restos mortais do eminente herói foram transladados ao cemitério dos mártires, em Argel. O pavilhão alviverde que empunhava com fervor em suas lutas é hoje a base da bandeira nacional da Argélia. O emir passou a ser considerado o fundador da nação argelina, tanto pelo vigor com que combateu os franceses, quanto pela sutileza de que se valeu para unificar as tribos locais.






O selo apresentado, que é parte de meu acervo pessoal, mostra uma litografia de 1968 (aproximadamente) com a imagem do Emir Abdelkader, nas cores verde e branco – as cores nacionais argelinas.




quinta-feira, 21 de abril de 2011

IV centenario de la fundación de Guadalajara







“Guadalajara, Guadalajara, hueles a pura tierra mojada!” Assim dizem os versos de um mui celebrado clássico do cancioneiro popular mexicano, cujo tom de festividade se justifica quando observamos que a presença de “tierra mojada” não parece ter sido um dos apanágios constantes de Guadalajara.






Nuño Beltrán Guzmán - enviado do grande conquistador Hernán Cortez à parte ocidental da Nueva España – empreendeu a conquista da região que hoje é conhecida como Jalisco, no México. Em meio a essa investida, ao rumar para a localidade de Nochiztlán, nos idos de 1532, Nuño sentiu a necessidade de firmar uma base segura, onde pudesse organizar a conquista e se defender de eventuais ataques de nativos ariscos. Sob esse pretexto foi fundada então a “primeira versão” da cidade de Guadalajara – sendo assim alcunhada em homenagem à homônima espanhola, Guadalajara de Castilla-La Mancha, cidade natal do conquistador.








Algumas vezes as eventualidades brincam de ciranda com os grandes feitos históricos: o vocábulo Guadalajara tem sua origem etimológica no árabe “wad-al-hidjara”, que, por seu turno, significa “rio que corre entre pedras”; entretanto, a primeira Guadalajara mexicana simplesmente não dispunha de fontes hídricas suficientes à consecução dos planos de Nuño! A solução encontrada foi, por mais exótico que pareça, levar a cidade para outro chão.





A parada seguinte foi o lugarejo de Tonalá. Também ali a cidade não viçou, devido à recalcitrância dos habitantes locais, que sediciosamente insistiam em interferir nos planos de Nuño. O conquistador não vacilou: transferiu a vila para um terceiro lugar, chamado Tlacotlán.




Para a infelicidade de Nuño Beltrán e dos europeus que o acompanhavam, também essa terra não lhes era nada gentil – tratava-se de uma região de terrível escassez de atividades econômicas, sobretudo de produção de gêneros alimentícios. Somente lhes restava uma [amedrontadora] alternativa, que era enfrentar a vizinha população indígena Caxcane, em uma épica batalha que entrou para os anais da história sob o nome de Guerra del Mixtón.





Vitoriosos que foram na Guerra del Mixtón, os europeus liderados por Nuno assentaram-se no Valle de Atemajac, para onde promoveram uma bizarra quarta mudança da cidade de Guadalajara. Finalmente com sucesso, fundaram a cidade a 14 de fevereiro de 1542. Seis meses depois, Carlos V expediu as cédulas reais espanholas que concediam a Guadalajara o título oficial de cidade.





Guadalajara é hoje a segunda cidade mais populosa do México, com 1.546.514 habitantes. A Perla del Occidente, como também é chamada, é a cidade central da Área Metropolitana de Guadalajara, além de constituir a capital do estado de Jalisco, no oeste do México, às margens do Oceano Pacífico.






O selo apresentado, que é parte de minha coleção pessoal, mostra o pórtico do Palácio del Gobierno, sede do governo local, de onde o Padre Miguel Hidalgo, no ano de 1774, aboliu a escravidão em território mexicano, dando forte impulso ao movimento de independência do país. O selo foi emitido em 1942, quando o México comemorava o quarto centenário da fundação de Guadalajara.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Kölner Dom, a Catedral de Colônia




Seguindo o curso das majestosas águas do Rio Reno, assim que se avança sobre a região da Renânia, depara-se com a bela cidade de Colônia (Köln, em alemão). Dona de um dos mais importantes portos fluviais da Alemanha, a cidade é fortemente influenciada pelo catolicismo romano.





Seguramente, a elevação religiosa mais imponente de toda a região do Reno é a Catedral de Colônia (Kölner Dom), cuja construção teve início no século XIII e levou mais de meio milênio para ser finalizada. Como a catedral foi construída a partir de uma antiga igreja romana ali preexistente, o local nunca cessou de servir como destino de peregrinações – sobretudo porque, já em 1164, o arcebispo Rainald von Dassel havia depositado no local o relicário que continha os alegados restos mortais dos três reis magos bíblicos (Baltazar, Melchior e Gaspar). Esse relicário lá permanece até a atualidade.





As alterosas torres da catedral rasgam o céu de Colônia com os seus espetaculares 157 metros verticais, tendo feito com que a edificação fosse aclamada como a mais alta do mundo, à época de sua construção.





A localização de Colônia, no extremo ocidente da Alemanha, fez com que a cidade constituísse uma “presa fácil” para as garras das tropas da Revolução Francesa. Em meados de 1794, os franceses tomaram a construção e passaram a fazer uso profano de suas instalações. O fato curioso é que nessa data as obras da catedral ainda não haviam sido concluídas. E muito mais curioso foi o efeito que essa profanação ocasionou sobre as mentes e corações dos habitantes de Colônia: assim que expulso o invasor francês, o povo uniu-se apaixonadamente visando a finalização de tão demorada obra. Com efeito, em 1842 concluiu-se a construção da Kölner Dom, que na fase final contou com generosas provisões financeiras do Tesouro Prussiano – que fatalmente visualizou neste episódio um elemento de reforço nacionalista prussiano em tão vulnerável região.





Também as bombas da Segunda Guerra Mundial tentaram derrubar a catedral, mas os 14 ataques contra ela lançados não foram suficientes para levá-la abaixo. Em que pesem feridas tenham remanescido em suas estruturas, o santuário segue sendo a “ewige Baustelle” (construção eterna) dos renanos – nome nada exagerado para quem já sobreviveu a Napoleões e Hitlers, mas ainda assim conseguiu se manter fulgurantemente ereta.





O selo apresentado, que é parte de minha coleção pessoal, mostra a parte externa da Catedral de Colônia. Trata-se de uma comemoração dos correios alemães pela classificação desse edifício como Patrimônio Cultural Mundial pela UNESCO.

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